Um dos fatos históricos mais importante de Serra Talhada aconteceu em 1951, quando o município comemorou seu centenário e na ocasião, o então governador de Pernambuco, o serratalhadense Agamenom Magalhães, trouxe para cidade convidados ilustres, entre eles o famoso jornalista Assis Chateaubriant, para ver de perto a cidade que despontava como o maior produtor de algodão do Estado.
Dos anos de 1950 até os anos de 1980, Serra Talhada “reinou”, com a produção do “ouro branco”. Por aqui se instalaram grandes compradores como a Anderson Cleyton e a Sanbra (Sociedade Algodeira do Nordeste Brasileiro).
A safra algodoeira era quem ditava o ritmo da economia, e assim, a Capital do Xaxado desenvolveu seu comércio e despontou como o maior pólo de desenvolvimento do sertão, até que veio a praga do “bicudo”, inseto que devora o “botão floral” do algodão e dizima sua produção.
De repente os campos que antes ficavam brancos como neve, com os “capuchus” de algodão desabrochando na planta, deram lugar ao cinzento da caatinga e o agricultor nordestino perdeu uma das suas mais importantes fonte de renda, tendo que voltar a conviver apenas com a cultura do feijão e milho.
O “bicudo”, dizimou o algodão não apenas de Serra Talhada e sim do país inteiro e tornou inviável a cultura do mesmo, levando o país da condição de exportador para importador da lã.
O pequeno inseto (bicudo) não foi vencido, no entanto, técnicas desenvolvidas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária) mostraram que através de plantações agroecológicas consorciadas, é possível a volta da produção do algodão.
Entre os anos de 2005/2007, através do IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco), um projeto para cultivo de algodão, obedecendo as técnicas do Embrapa tentou ser implantado no município, mais precisamente no Distrito do Logradouro, no entanto foi abandonado antes de qualquer resultado. Agora, por determinação do prefeito Luciano Duque a Secretaria de Agricultura de Serra Talhada retomou o projeto e já começa a comemorar os resultados positivos.
Nesta quarta-feira (8), o secretário José Pereira foi participar do beneficiamento (descaroçamento) de 800 quilos de algodão produzidos em 1 hectare no Distrito de Santa Rita. “O cultivo foi feito de forma experimental. Agora no início de 2013, plantamos 15 quilos de algodão consorciado com milho e feijão e apesar da estiagem, conseguimos colher 800 quilos, que vai servir de matriz para expandirmos o projeto agora em 2014”, informou José Pereira, secretário de agricultura local.
Segundo o Técnico Agrícola Claudevan José dos Santos, responsável pelo projeto “algodão Aroeira” da Secretaria Municipal de Agricultura, dos 800 quilos colhidos, aproximadamente 480 quilos é de semente e o restante (320 quilos) é de pluma. “Esta semente será usada para cultivarmos 50 hectares, e dependendo da regularidade do inverno, nossa produção poderá saltar destes 800 quilos para aproximadamente 80 toneladas. Será o primeiro grande passo para retomarmos a cultura do algodão no município”, anuncia Pereira.
Agricultores da região de Santa Rita, Bernardo Vieira e Loanda, no município de Serra Talhada estão sendo orientados e convidados pela Secretaria de Agricultura local para ingressarem no projeto, mas, informa o secretário, em breve o projeto deverá está em toda zona rural.
“Isto aqui é um projeto piloto. Um projeto que acreditamos muito e que enxergamos nele a redenção da agricultura sertaneja”, explica José Pereira.
O técnico Claudevan faz questão de frisar que toda produção do algodão em Serra Talhada será agroecológico, ou seja, sem uso de agrotóxico, e isso, lembra ele, é benéfico em vários aspectos, pois garante um mercado certo para colocação do produto com um preço diferenciado. “Atualmente o quilo de pluma do algodão agroecológico está sendo vendido por R$ 6,85”, disse ele.
O secretário José Pereira informou ainda que está fazendo parcerias com algumas instituições e ONGs, como o Projeto D. Helder, através do qual deverá escoar a produção local.
A expectativa, tanto do Governo Municipal como dos agricultores é muito grande, e acreditam que em poucos anos a cidade poderá voltar a despontar como grande produtor de algodão no estado e assim, o “ouro branco”, poderá voltar a “enriquecer o sertão”.